A meta da eletrificação total do mercado europeu em 2035, no que à venda de automóveis novos diz respeito, parece ser, cada vez mais, uma miragem. Até porque também não pára de aumentar o número de fabricantes que não parecem dispostos a suportar os reveses que a medida está já a ter na sua atividade.
Entre eles encontra-se, indubitavelmente, a Porsche, que acaba de nomear um novo CEO: Michael Leiters no lugar de Oliver Blume, em boa parte devido aos desastrosos resultados financeiros recentemente registados pela marca germânica de desportivos. E, tudo indica, não só estará a desenvolver um novo SUV animado por motorizações térmicas e híbridas, a posicionar abaixo do Cayenne, e a lançar em 2028 (à partida, com base na plataforma PPC, estreada pela mais recente geração do Audi A5, mas não se chamando Macan, que deverá continuar a ser proposto apenas em formato totalmente elétrico), como a preparar-se para fazer o mesmo com a futura geração dos 718 Boxster e 718 Cayman, prevista para 2026, e originalmente criada para fazer uso exclusivamente de motorizações 100% elétricas (os modelos atuais já só são propostos nas versões 718 Spyder RS e 718 Cayman GT4 RS, com 500 cv, e preços acima dos 210 000 euros, e deverão manter-se, depois de devidamente atualizados, no topo da gama, acima dos elétricos, até à chegada dos novos animados por motores a gasolina).
A possibilidade é aventada por várias fontes, nomeadamente pela Autocar. Com base em informações por si recolhidas junto de membros do departamento de engenharia da marca, a publicação britânica avança que, ao abrigo do “realinhamento estratégico” da sua oferta (que custará qualquer coisa como 7,5 mil milhões de euros…), o construtor de Estugarda está já a trabalhar na adaptação da plataforma PPE Sport (Premium Platform Electric Sport), de modo a que esta também possa acolher motores de combustão, montados em posição central traseira.
Tudo isto terá como fito de assegurar a máxima eficiência de produção, e os maiores benefícios em termos de volumes de escala de diversos componentes-chave, constituindo a mais radical inversão de rumo de sempre da casa de Weissach nesta matéria.
Só que uma decisão deste calibre acarreta dificuldades de dimensão significativa, e com tempos de resolução prolongados, para mais numa marca com os pergaminhos da Porsche, pelo que estes novos 718 Boxster e 718 Cayman a gasolina não deverão chegar ao mercado antes do final da década. Tanto mais que a Porsche estará apostada em que o seu desempenho dinâmico esteja, pelo menos, ao nível do das versões elétricas, ambição não pouco relevante, tendo em conta que estas últimas beneficiarão de um centro de gravidade tido como “ultrabaixo”.
Por outro lado, retirar a bateria de alta tensão de uma estrutura que foi concebida para contar com a mesma como componente fundamental implicará uma perda significativa de rigidez que os engenheiros terão de colmatar, muito provavelmente criando uma nova secção inferior estrutural que sirva como piso do veículo, possa ser aplicada nos mesmos pontos de fixação da bateria, e assegure a indispensável robustez. Ao passo que a secção traseira terá de ser completamente reformulada, e de receber um novo subchassis, de modo a ser capaz de acolher o motor (ao que parece, uma derivação mais evoluída, e, naturalmente, não tão potente, do Boxer atmosférico de seis cilindros horizontais opostos, com 4,0 litros de capacidade, presentemente utilizado nos 718 Spyder RS e 718 Cayman GT4 RS, e estreado na família 718 em 2020), a transmissão e respetivo túnel central, o depósito de combustível, o circuito de alimentação de gasolina, e a linha de escape – tudo componentes ausentes num automóvel totalmente elétrico.









