A expansão implacável da Fórmula 1 atingiu um novo marco em 2024, com o desporto a acolher a sua temporada mais longa de sempre—24 corridas que abrangem cinco continentes. Enquanto os fãs desfrutavam do calendário repleto de ação, as exigências extenuantes impostas às equipas e aos pilotos suscitaram críticas, particularmente por parte do diretor da equipa Mercedes, Toto Wolff.
Falando à agência de notícias austríaca ORF, Wolff destacou o impacto físico e mental do calendário apertado, chamando a configuração atual de “realmente cruel.” As suas observações sublinham os desafios de gerir a fadiga do pessoal, as complexidades logísticas e a pressão pura de operar num desporto com um alcance global em constante crescimento.
“Triple-Headers e Noites em Vegas”: A Fadiga Bate Forte em 2024
A fase final da temporada de 2024 incluiu dois triple-headers, com as equipas a navegarem seis corridas em oito semanas, atravessando fusos horários e continentes. A etapa final, que incluiu o muito aguardado Grande Prémio de Las Vegas, apresentou desafios únicos devido à sua programação tardia e às frias condições do deserto. Wolff descreveu o impacto:
“Recentemente falei com Helmut [Marko] sobre Las Vegas. Foi realmente cruel, porque só vês a luz do dia durante algumas horas antes de ires para a cama e não sabes quando comer. Todos enfrentaram isso de maneira diferente, mas isso afeta tanto o teu ritmo que é difícil recuperar.”
Os mecânicos, que muitas vezes suportam o peso da carga de trabalho, enfrentam condições particularmente difíceis. Ao contrário dos executivos de equipa e dos pilotos, muitos mecânicos viajam em classe económica e têm a tarefa de montar e desmontar equipamentos complexos sob rigorosas restrições de tempo. Wolff reconheceu a sua situação:
“Está tudo além do limite… Pode-se ver pelos rostos que não dura muito assim.”
Doença e Fadiga Enfatizam uma Preocupação Crescente
Vários pilotos adoeceram perto do final da temporada, com os colegas de equipa da Haas, Nico Hülkenberg e Kevin Magnussen, a perderem compromissos importantes. Max Verstappen já tinha alertado que temporadas prolongadas poderiam agravar tais problemas. O efeito cumulativo da fadiga de viagem, dos horários de sono perturbados e dos ambientes de alta pressão é agora um ponto de discussão chave entre os líderes da F1.
2026: Um Passo em Direcção à Racionalização do Calendário
Em resposta a preocupações crescentes, a Fórmula 1 anunciou uma reestruturação regional para o calendário de 2026, de forma a reduzir a pressão logística. As alterações notáveis incluem a mudança do Grande Prémio do Canadá para maio e de Mónaco para o início de junho, criando um fluxo mais lógico entre as corridas da América do Norte, Europa e Ásia. Os novos agrupamentos são projetados para minimizar as viagens de ida e volta que anteriormente levaram as equipas ao limite.
2026 Agrupamentos Regionais Propostos:
- Oceânia/Médio Oriente: Austrália, Bahrein, Arábia Saudita
- Ásia: China, Japão
- América do Norte: Miami, Canadá
- Europa: Mónaco, Espanha, Áustria, Grã-Bretanha, Hungria, Bélgica, Itália
- Ásia: Azerbaijão, Singapura
- América do Norte/Sul: EUA, México, Las Vegas, Brasil
- Médio Oriente: Catar, Abu Dhabi
Ao consolidar as corridas dentro de regiões específicas, a Fórmula 1 visa reduzir as pressões logísticas, proporcionar espaço para as equipas e melhorar a sustentabilidade.
Equilibrar o Crescimento com a Sustentabilidade
O calendário em crescimento da Fórmula 1 reflete a sua ambição de expandir a sua presença global e as fontes de receita, mas líderes como Wolff estão a instar o desporto a equilibrar o crescimento com o bem-estar daqueles que o tornam possível.
A reestruturação para 2026 representa um passo na direção certa, mas as preocupações sobre esgotamento, logística de viagem e condições de trabalho justas persistem. À medida que a F1 olha para o futuro, o desafio será garantir que o espetáculo do desporto não venha à custa daqueles que estão por trás das câmaras. O apelo de Wolff por mudanças pode ser o catalisador necessário para iniciar uma conversa mais ampla sobre sustentabilidade—não apenas para o planeta, mas para as suas pessoas.