A abordagem da Renault na Fórmula 1 sempre foi confusa. Às vezes, falta de comprometimento, ocasionalmente alcançando menos sucesso do que o esperado e sempre instável, a decisão de nomear Flavio Briatore como “consultor executivo” é incrivelmente surpreendente. O que isso diz sobre a cultura do Grupo Renault, o CEO Luca de Meo e a Alpine F1? O fato de terem trazido o cérebro por trás do escândalo do Grande Prêmio de Cingapura de 2008 como seu salvador é desconcertante.
Briatore tem todo o direito de trabalhar no automobilismo e já esteve envolvido em várias capacidades. Não é um problema que ele tenha trabalhado com a F1 em si, e não há motivo para que ele não possa assumir um cargo com uma das outras nove equipes. Foi perfeitamente aceitável para Pat Symonds, outra figura-chave no incidente de Cingapura em 2008, trabalhar para Marussia, Williams e F1. No entanto, a disposição da Renault em nomear Briatore para um cargo dentro de sua equipe de F1 é absurda. Sim, já se passaram 15 anos desde as consequências de Cingapura em 2008 levarem à venda da equipe pela Renault, mas ainda é a mesma equipe com a mesma maioria de propriedade.
Não se engane, essa decisão foi tomada pelo próprio De Meo. O comunicado à imprensa da Alpine deixou claro que ele pessoalmente nomeou Briatore. O papel de consultor é descrito como envolvendo o mercado de pilotos, avaliando a estrutura atual e fornecendo conselhos sobre questões estratégicas.
A questão não são as habilidades de Briatore. Ele desempenhou um papel crucial no sucesso da equipe no passado, e não devemos ignorar suas contribuições positivas. Na verdade, quando a equipe enfrentou turbulências de liderança há 11 meses, argumentei que eles precisavam de alguém como Briatore. No entanto, sempre enfatizei que nunca poderia ser realmente Briatore.
Curiosamente, a estrutura atual que precisa ser avaliada foi estabelecida por Briatore. Uma avaliação justa pode desviar o foco de Enstone e Viry e destacar as deficiências daqueles no topo da Renault, que esperam sucesso sem investir o suficiente e falta de pensamento estratégico.
Essa equipe frequentemente se preocupa com aparências, o que levou a decisões ruins. Por exemplo, a candidatura de Nico Hulkenberg para a posição de piloto de 2023 foi descartada principalmente porque ele já havia sido dispensado anteriormente, e teria sido ruim trazê-lo de volta, em vez de considerar seus méritos.
Em meio a rumores de que a Alpine está considerando encerrar seu programa de motores e preocupações do grupo de investidores americanos que adquiriu recentemente a equipe, faria sentido se essa nomeação fosse mais um passo em direção ao eventual desaparecimento do programa de F1 da Renault.
A Renault frequentemente nega que esteja à venda, e eles reiteraram isso para a equipe de Enstone ontem. Só podemos esperar que isso seja verdade em prol da equipe, pois eles merecem uma chance de alcançar seu pleno potencial. Há muitos indivíduos talentosos dentro da equipe que foram decepcionados pela Renault.
A única razão lógica para trazer Briatore para esse cargo é facilitar uma venda. Ao separar a equipe de Viry e torná-la uma entidade separada que pode ser facilmente vendida, a Renault pode potencialmente incluir sua marca de carros Alpine pouco impressionante no negócio. Briatore é altamente habilidoso em questões comerciais e provavelmente seria eficaz na facilitação de tal venda, mesmo que a entidade supostamente não esteja à venda.
No entanto, existem outras pessoas que poderiam desempenhar esse papel. Uma das razões dadas para essa nomeação foi fornecer um maior apoio ao chefe da equipe, Bruno Famin, que trabalha incansavelmente, mas pode estar sobrecarregado. Talvez seja só isso. Mas, mais uma vez, foi De Meo quem iniciou as mudanças de liderança no ano passado, então, se elas não estiverem se mostrando eficazes, isso levanta questões significativas sobre a estratégia da Renault.
Há uma sensação de declínio em torno da equipe Alpine dentro da comunidade da F1 em geral, e a credibilidade da Renault na F1 foi ainda mais erodida com essa última jogada.
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