O final de 2024 marcou uma mudança sísmica na Fórmula 1. Lewis Hamilton, o piloto que definiu a era dominante da Mercedes e conquistou seis dos seus sete títulos mundiais com as Flechas Prateadas, deixou a equipa para se juntar à Ferrari. Foi uma decisão imbuída de frustração, ambição e do apelo de reavivar a glória adormecida da Ferrari.
Para a Mercedes, a saída de Hamilton é um amargo golpe. O Diretor da Equipa, Toto Wolff, não poupou palavras, admitindo que a Mercedes falhou o seu piloto superstar na nova era regulamentar. “Não conseguimos dar ao Lewis o carro de que precisava para vencer,” disse Wolff à Auto Motor und Sport. “Simplesmente não conseguimos fornecer um desempenho consistente, downforce ou manuseio.”
A Queda de uma Dinastia
A queda da Mercedes começou com a revisão dos regulamentos técnicos de 2022, que pôs fim à quase total dominância da equipa na era híbrida. As Flechas Prateadas, outrora invencíveis, viram-se a lutar contra um manuseio imprevisível, degradação dos pneus e um défice em relação à Red Bull, McLaren e, eventualmente, Ferrari.
Os resultados de Hamilton contaram a história da queda da Mercedes. De 2022 a 2024, o britânico conseguiu apenas duas vitórias—um contraste acentuado com os seus anos dourados, onde os totais de vitórias de dois dígitos eram a norma. A temporada passada foi particularmente angustiante: Hamilton terminou em sétimo no Campeonato de Pilotos, a sua pior posição desde que estreou com a McLaren em 2007.
O Fator Russell
A ascensão de George Russell complicou ainda mais o capítulo final de Hamilton na Mercedes. O jovem britânico superou consistentemente o seu ilustre colega em qualificações, vencendo o seu confronto direto por 19–5 em 2024. Particularmente após a pausa de verão, Russell estabeleceu-se como o homem forte da Mercedes.
Wolff atribuiu as dificuldades de Hamilton ao seu estilo de condução agressivo, que conflitou com as características da nova geração de carros de Fórmula 1. “O Lewis trava tarde e ataca o carro agressivamente nas curvas,” explicou Wolff. “Esta geração de carros não se adapta a essa abordagem. Às vezes, é melhor conduzir a 98 por cento, e isso é mais visível nas qualificações.”
Apesar das especulações de que a Mercedes poderia ter favorecido Russell, Wolff e o Diretor Técnico James Allison rejeitaram as alegações de tratamento desigual. “Os carros eram idênticos. Quaisquer diferenças na configuração eram por escolha das equipas individuais,” disse Allison. Wolff ecoou o sentimento: “O Lewis é demasiado profissional para desistir ou aceitar algo menos do que igualdade.”
A Aposta de Hamilton na Ferrari
Aos 40 anos, Hamilton inicia um novo capítulo com a Ferrari, a equipa mais icónica da história da Fórmula 1. A sua mudança para Maranello vem com a promessa de um carro mais competitivo, uma vez que a Ferrari ficou a poucos pontos de conquistar o título de Construtores em 2024. O chefe de equipa, Fred Vasseur, acredita que a experiência e a determinação de Hamilton vão complementar a velocidade bruta de Charles Leclerc, formando uma dupla capaz de enfrentar Max Verstappen da Red Bull e o duo ressurgente da McLaren.
Hamilton, por sua vez, está determinado a provar que os seus detratores estão errados. “Isto é sobre legado,” disse durante o evento de lançamento da Ferrari para a temporada de 2025. “A Ferrari representa paixão, história e o sonho de cada piloto. Estou aqui para terminar a minha carreira em grande.”
O Peso da História
A pressão sobre Hamilton e a Ferrari é imensa. A Scuderia não vence um Campeonato de Pilotos desde Kimi Räikkönen em 2007, e o seu último título de Construtores foi em 2008. Para Hamilton, isto não é apenas um canto do cisne na carreira, mas uma oportunidade de conquistar o elusive oitavo título mundial e cimentar o seu lugar como o maior de todos os tempos indiscutível.
Mas o desafio é íngreme. A Red Bull, liderada por Verstappen, continua a ser um gigante, e a McLaren está a reduzir a diferença. A Ferrari, apesar das melhorias em 2024, ainda precisa de encontrar aqueles cruciais décimos finais para competir de forma consistente na frente.
A Última Palavra de Toto Wolff
Wolff, refletindo sobre a saída de Hamilton, foi franco: “Sentiremos a sua falta, claro. Lewis foi mais do que um piloto—ele foi o coração desta equipa. Mas a Fórmula 1 é sobre avançar, e respeitamos a sua decisão de enfrentar este novo desafio.”
Os Desafios para 2025
À medida que a temporada de 2025 se aproxima, todos os olhares estarão voltados para Hamilton e a Ferrari. Conseguirá o britânico reviver o pedigree vencedor da Scuderia, ou será que este capítulo será mais um “e se” na história recente da Ferrari? Para Hamilton, os desafios não podiam ser maiores: trata-se de redenção, legado e de provar que mesmo no crepúsculo da sua carreira, ele continua a ser uma força a ter em conta.