A Peugeot não marca presença no segmento dos citadinos desde o final da produção do 108, na fábrica de Kolín, na República Checa, mas a marca tem um novo estudo que abre a porta ao seu regresso à classe dos citadinos, o qual pode recuperar importância na Europa com as intenções democratização do acesso à mobilidade elétrica. E a satisfação desta necessidade exige o desenvolvimento de uma geração de automóveis mais pequenos, e, sobretudo, mais baratos. Em 2024, a quota de mercado da classe no mercado europeu era de 4,2% (509 700 unidades), contra 9,5% em 2013, ou 12,5% em 2009.
Alain Favey, 58 anos, o francês à frente da marca de Sochaux desde fevereiro último, não anunciou o regresso da casa do leão ao segmento A na apresentação do Polygon Concept, estudo de um citadino com motorização elétrica (entre os alvos potenciais, o Renault Twingo E-Tech Electric); mas comprometeu-se com a introdução do Hypersquare em 2027 – previsivelmente, na próxima geração do 208, a terceira desde 2012 (a atual está no ativo desde 2019, tendo sido modernizada no verão de 2023), Cumprindo-se o que está programado, o novo modelo assentará na plataforma STLA Medium da Stellantis.




Alain Favey apresentou o Hypersquare como o próximo capítulo na história da Peugeot, e o futuro da experiência de utilização, e do prazer de condução, nos automóveis da marca francesa, por propor a reinvenção de equipamento que mudou muito pouco em mais de 100 anos. E o que propõe, de facto? Uma reinterpretação substancial do módulo de controlo da direção, que passa a executar, eletronicamente, todas as ações do condutor. Eliminando-se a ligação direta com as rodas, princípio convencional do sistema mecânico, aumentam-se a agilidade e a precisão, e beneficia-se a experiência e o prazer de condução. Na prática, a ideia é propor uma nova relação Homem-Máquina.
O Hypersquare da Peugeot diferencia-se dos volantes convencionais pelas formas retangulares, e por dispor de comandos nos quatro cantos, para controlo de muitas funções do veículo, através de toques simples com os polegares. E há, ainda, um painel micro-LED que substitui a instrumentação clássica. A marca apresentou o conceito no Inception Concept. de 2023, promoveu-o no VivaTech, de 2024 e, atualmente, continua a otimizá-lo, para poder introduzi-lo na produção em série.
A Lexus tem um sistema semelhante na nova geração do RZ. As vantagens são as mesmas: a baixa velocidade, o automóvel estaciona-se com movimentos pequenos no “volante”; a média e alta velocidades, a direção reage sempre com muita sensibilidade (leia-se: direta). A utilização do sistema exige, obrigatoriamente, o cumprimento de um período de aprendizagem, também para adaptação à ergonomia.




A ideia por detrás do Hypersquare não é original. A indústria da aviação utiliza-a há muito. No entanto, para proporcionar uma experiência de condução mais digital e intuitiva, o que significa, também, a redução do número de botões e comandos nos painéis de bordo dos automóveis, a Peugeot inspirou-se no mundo dos smartphones. No Polygon, antecipa, igualmente, a redução dos ecrãs no interior do veículo, que são substituídos por um head-up display de grandes dimensões (24 cm de largura por 74 cm de altura), que admite configuração de acordo com as necessidades, e muda de apresentação em função do programa de condução (Cruise, Fun e Hyper). Esta ação altera, igualmente, a animação e a iluminação interior e exterior – e, assim, à frente e atrás, as três garras dominantes nos Peugeot apresentam-se na horizontal e não na vertical (outra mais-valia da tecnologia micro-LED).
A ausência da coluna de direção permite, ainda, reinterpretar a configuração do interior do automóvel, possibilidade que a Peugeot também explora num protótipo que antecipa os seus futuros automóveis de pequenas dimensões (segmentos A e B), sobretudo na consola central e no painel de bordo, que têm arquiteturas e desenhos diferentes do comum. E ensaia-se, simultaneamente, uma nova abordagem à construção, com a economia circular debaixo de olho – utilização massiva de materiais reciclados e fáceis de reciclar, redução relevante do número de componentes, para simplificar o desenvolvimento, a produção ou a manutenção. Vantagem suplementar: assim, reduz-se o peso e, consequentemente, o consumo de energia.




No Polygon Concept, com duas portas que abrem ou fecham como “asas” (trata-se de solução que melhora muito o acesso a um interior com apresentação minimalista), os bancos são fabricados com plásticos reciclados, e injetados com espuma, e com recurso à tecnologia de impressão 3D, processos desenvolvidos com a Nagami (Espanha) e a Sixinch (Bélgica). Muitos componentes podem ser facilmente substituídos, o que aumenta muito o potencial de personalização (estende-se, até, aos pneus da Goodyear, que têm gravações a laser nos flancos na mesma cor do automóvel). O concept tem menos de 4 m de comprimento e motorização elétrica, mas não há informações sobre potência, capacidade da bateria ou autonomia.
O Peugeot Polygon Concept, recorde-se, também está disponível digitalmente num videojogo com milhões de adeptos (Fortnite) – a Epic Games introduziu o título em 2017, e, segundo os números mais recentes, contabiliza 650 milhões de jogadores registados, com cerca de 120 milhões ativos/mês, e entre um e três milhões/dia. O Polygon Concept movimenta-se na Peugeot Polygon City, uma ilha virtual com o mesmo formato do Hypersquare. No Fortnite, existem três interpretações do estudo que antevê o futuro da marca (no desenho e na tecnologia): urbana, desportiva e exploradora.








