Nos EUA, o NBER (National Bureau of Economic Research – Gabinete Nacional de Investigação Económica, numa tradução livre) decidiu avaliar de que forma o comportamento (reconhecida e assumidamente) polémico de Elon Musk, nomeadamente as suas atitudes polarizadoras, e as suas posições partidárias, terão afetado as vendas da Tesla, marca de que é CEO, no seu país natal. Para tal, esta organização sem fins lucrativos analisou, a nível “distrital” (em cada county, na organização administrativa dos EUA), os dados relativos às matrículas mensais de automóveis novos nos EUA, entre outubro de 2022 e abril de 2025, e como as alterações das respetivas vendas, ao longo deste período, variaram entre regiões com diferentes proporções de eleitores democratas e republicanos.
O estudo em questão começa por sublinhar que, em 2020, a Tesla foi o fabricante de automóveis que mais cresceu nos EUA, ao ponto de abalar o status quo da indústria local, E, também, que, em julho último, a casa de Palo Alto enfrentava já o segundo ano consecutivo de quebra nas vendas, isto apesar de as vendas de automóveis elétricos (EV), globalmente, terem crescido, naquele país, 7% em 2024, e 1,5% no primeiro semestre de 2025 – e de vários fabricantes registarem, nestes mesmos períodos, um acelerado crescimento das respetivas vendas de EV.
Será indesmentível que vários fatores terão contribuído para essa drástica alteração do estado de coisas. Como, por exemplo, a falta temporária de automóveis novos da Tesla para entrega a clientes; o aumento da concorrência (por via do cada dia maior número de EV lançados tanto pelos construtores mais tradicionais, como por marcas mais recentemente chegadas ao mercado); e, ainda, a dependência da Tesla do fluxo de novos clientes de EV, face à quebra da procura dos seus modelos por parte daqueles que foram dos primeiros a adquirir automóveis deste género, nomeadamente da própria marca californiana.

Mas um outro elemento de análise foi foco principal deste trabalho: a influência de Elon Musk no desempenho da empresa que lidera. Como ilustrado pelos autocolantes colocados nos para-choques de tantos dos seus clientes (como o célebre “Comprei este carro antes de saber que Elon era louco”), não restarão dúvidas de que alguns adeptos da Tesla ficaram manifestamente insatisfeitos com algumas ações de Elon Musk, desde logo com a sua compra do Twitter, em meados de 2022 (e com a sua atitude “passiva” face ao recrudescimento de conteúdos de extrema direita, e de vozes extremistas, na rede social que, entretanto, passou a chamar-se “X”), assim como os despedimentos em massa levados a cabo pela Tesla.
E muitas das avaliações negativas do comportamento do multimilionário norte-americano só pioraram perante as suas atividades abertamente partidárias nas eleições de 2024 (nomeadamente as contribuições de 300 milhões de dólares para campanhas de candidatos republicanos, e as suas ações subsequentes enquanto responsável pelo DOGE (Department of Government Efficiency – Departamento de Eficiência Governamental) da administração de Donald Trump. Os investigadores do NBER destacam, ainda, que o homem mais rico do mundo terá violado a máxima da superestrela da NBA Michael Jordan, por muitos considerados como o melhor jogador de basketball de sempre, relativa a neutralidade política – e, de forma ainda mais acentuada, que as suas atitudes, e a sua postura pública, acabaram por antagonizar a sua base de clientes mais leal, pois, como o estudo em apreço demonstra, os democratas são muito mais propensos a comprar um Tesla do que os republicanos.

Perante tudo isto, uma das principais conclusões deste estudo é que o comportamento de Elon Musk influenciou de forma trágica as vendas da Tesla, e de forma crescente ao longo do tempo a partir de outubro de 2022. Segundo a mesma fonte, no primeiro trimestre de 2025, concluiu-se que, sem o efeito partidário de Elon Musk, as vendas mensais da Tesla teriam sido superiores em cerca de 150% – e que esse mesmo efeito levou a um aumento das vendas de modelos concorrentes (entre 17% e 22% no acumulado desde outubro de 2022, isto é, sem esse mesmo efeito partidário, as vendas mensais de outros automóveis elétricos e híbridos teriam sido inferiores em cerca de 25%).
Os dados dão, igualmente, mostra de uma alteração drástica da tendência das vendas da Tesla, a partir de meados de 2022, em counties com maior tendência democrata, por comparação com aqueles em que dominam os votantes republicanos. Realçando os autores do estudo que, se os meios de comunicação social dos EUA têm dado ampla cobertura ao declínio das vendas da Tesla, mas frequentemente citando as estatísticas que indicam que as quebras são menos acentuadas do que anteriormente, tendem a “esquecer” um elemento fundamental da equação: os níveis que essas vendas teriam atingido sem o efeito partidário de Elon Musk. Tendo sido esse o seu principal âmbito, a grande conclusão do estudo realizado pelo NBER é que, entre outubro de 2022 e abril de 2025, não fossem as atividades partidárias de Musk, as vendas da Tesla teriam sido superiores entre 67-83% aquilo que realmente foram, o equivalente a mais 1-1,26 milhões de unidades que teriam sido vendidas nesse período.
Pode consultar na íntegra o estudo levado a cabo pelo NBER aqui
			







