Obra-prima. Liberdade para criar para além das convenções. Uma ponte entre o passado e o futuro. Majestático. Escultura em movimento. Na comunicação da marca da estrela, não faltam adjetivos, analogias e discrições (porventura todos eles válidos) destinados ao seu mais recente protótipo, acabado de revelar em Xangai. Mas do que não restam dúvidas é que será praticamente impossível encontrar alguém que fique indiferente ao novo Mercedes-Benz Vision Iconic, um “estudo” que poderá servir para praticamente tudo: para dar origem a um novo modelo; para inaugurar a nova linguagem estilística do construtor de Estugarda; para dar a conhecer soluções tecnológicas que, a seu tempo, irão marcar presença nos seus modelos – entre muitas outras possibilidades.
Inspirado na invejável herança da marca, e na época dourada do design automóvel dos anos de 1930, foi concebido para ajudar a moldar o futuro da Mercedes, pretende fundir beleza e elegância intemporal com a mais avançada tecnologia, e estabelecer novos padrões para a era elétrica e digital – assumindo-se como um testemunho do compromisso do construtor germânico em tornar realidade, já hoje, a mobilidade do amanhã. Com o Vision Iconic, a Mercedes entra numa nova era em termos de estilo, em que a emblemática grelha frontal promete ser um elemento central, como já o havia indiciado a mais recente geração do Mercedes GLC elétrico: neste protótipo de um opulento coupé de duas portas e generosas dimensões, aquele que, há mais de um século, é um dos elementos mais reconhecíveis da história do automóvel foi reinterpretado de forma, no mínimo, arrojada, quando não impressionante.



Bebendo inspiração nas grelhas verticais de modelos lendários, como o W 108 (1965-67, proposto apenas enquanto três volumes de quatro portas), o W 111 (produzido nas versões berlina, entre 1959-68, e de duas portas coupé e descapotável, entre 1961-71), ou o “mítico” 600 Pullman (a luxuosa limousine fabricada entre 1963-80), é caracterizada pela sua ampla moldura cromada, por uma estrutura em malha de vidro escurecido, e pela iluminação integrada, fundindo legado e modernidade digital – e até a estrela montada na vertical no enorme capot é iluminada, em combinação com diferentes animações da iluminação da própria grelha. O ousado visual da secção dianteira é ainda marcado pelos faróis minimalistas, imbuídos da mais recente tecnologia de iluminação, e com as respetivas luzes de circulação diurna a exibirem a célebre estrela de três pontas da Mercedes; sendo o perfil dominado pelas enormes rodas, e pela acentuada quebra da linha do tejadilho em direção à traseira – por seu turno, marcada pelo seu formato fusiforme, e pelos farolins ultrafinos.


Quanto à pintura em preto brilhante que reveste a carroçaria, é muito mais do que um atributo meramente destinado a sublinhar as suas formas esculturais. Por integrar inovadores módulos solares ultrafinos, com uma espessura semelhante à do recheio de uma bolacha, torna-se numa superfície fotovoltaica ativa, apta a garantir uma autonomia elétrica adicional, naturalmente dependente da localização geográfica, e das respetivas condições climatéricas. Segundo a Mercedes, em condições ideais, uma área de 11 m2 (equivalente á superfície de um SUV de médio porte, pode produzir, anualmente, energia suficiente para percorrer 12 000 km, sendo ainda atributos desta solução o não recorrer a terras raras ou silício, o poder ser facilmente reciclada, e as células fotovoltaicas terem uma elevada eficiência energética (20%) e gerarem eletricidade em permanência, acumulando-a na bateria mesmo quando o veículo se encontra desligado.


Perante tão impressionantes argumentos no que ao exterior diz respeito, poderia parecer difícil que o habitáculo se lhe conseguisse equiparar, mas, também aqui, a Mercedes apostou forte, e não deixou os seus créditos por mãos alheias, até por acreditar que, com o advento da condução autónoma, o papel do interior dos automóveis irá sofrer alterações profundas, e ser cada dia mais importante. No caso do Vision Iconic, a meta foi oferecer um vislumbre desse futuro, fundindo “o conforto digno de um lounge com uma experiência totalmente nova de luxo hiperanalógico e digital”, redefinindo a elegância a bordo através de uma opulenta combinação, inspirada na Art Déco, de manufatura, materiais exclusivos, e alta tecnologia.
A escultural estrutura flutuante em vidro, denominada “Zeppelin”, é a peça central do tablier, em cujo interior, com pormenores artísticos, interagem instrumentos analógicos e digitais – ganhando vida, assim que se abre a porta, com uma animação cinematográfica totalmente analógica, inspirada em cronógrafos de manufatura. O ecrã de bordo estende-se de pilar a pilar, tendo como fundo um painel em madrepérola, material utilizado também nas portas, onde ainda pontificam os puxadores das ports em latão polido; o volante de quatro braços, em cujo centro o logótipo da Mercedes-Benz flutua no interior de uma esfera de vidro, preso pelos raios como se de uma joia se tratasse, transmite uma sensação de desportividade e elegância; ao passo que o banco dianteiro corrido está forrado a veludo azul-escuro, e o piso do veículo por um elaborado embutido de palha com motivo Art Déco clássico em forma de leque (uma técnica decorativa de luxo que remonta ao século XVII, e foi revivida na década de 1920).




Ciente de que os automóveis do futuro incluirão cada vez mais funcionalidades e sistemas de assistência ao condutor, nomeadamente para permitirem a condução autónoma, o que se traduzirá em exigências cada vez maiores em termos de energia, a Mercedes pretende apostar forte na eficiência nesta matéria. No Vision Iconic, e tirando partido da sua pesquisa no domínio das redes neurológicas artificiais, é estreado um sistema de computação que pretende replicar o funcionamento do cérebro humano, capaz de efetuar os cálculos de Inteligência Artificial mais rapidamente, e com maior eficiência energética – uma tecnologia que apresenta um potencial de redução de 90% do consumo de energia, face aos sistemas atuais, para processar os dados necessários para uma condução totalmente autónoma.