A credibilidade das mensagens de rádio da equipa nas corridas de F1 sofreu um revés recentemente, levantando um debate sobre o seu papel na construção ou distorção de narrativas. O banco quente foi ocupado nada menos que pelo sete vezes Campeão do Mundo de F1, Lewis Hamilton, que esteve no centro de uma controvérsia durante o recente Grande Prémio da China.
O chefe da equipa da Ferrari, Fred Vasseur, estava visivelmente irritado com a seleção e a representação das mensagens de rádio da equipa na transmissão mundial. Ele acusou a Gestão da Fórmula 1 (FOM) de escolher mensagens de forma seletiva para criar drama desnecessário e deturpar as ações de Hamilton durante a corrida.
A questão em disputa foi a ênfase excessiva na suposta resistência de Hamilton a uma instrução da equipa que lhe pedia para deixar o seu colega de equipa, Charles Leclerc, ultrapassá-lo. A transmissão deu a impressão de que Hamilton estava a impedir Leclerc, atrasando assim o progresso. Esta narrativa foi ainda mais alimentada pela resposta de Hamilton ao pedido do seu engenheiro de corrida, Ricardo Adami, para deixar Leclerc passar: “Quando ele estiver mais perto, sim.”
No entanto, uma análise mais atenta a toda a sequência de eventos pinta um quadro diferente. Foi o próprio Hamilton quem inicialmente sugeriu deixar Leclerc passar devido às suas próprias dificuldades em manter o ritmo. Mas, devido à seleção e ao momento das mensagens transmitidas, o piloto britânico foi colocado sob uma luz negativa.
“Eu acho que isto é uma piada da FOM porque a primeira chamada veio do Lewis,” Vasseur desabafou a sua indignação após a corrida em Xangai. Ele prosseguiu acusando a FOM de criar um espetáculo a partir da situação, transmitindo apenas a última parte da conversa.
A FOM reconheceu o problema e emitiu um comunicado negando a seleção intencional de mensagens. Atribuíram a omissão da mensagem inicial de Hamilton a outras situações que se desenrolavam durante a corrida.
Este incidente surgiu na sequência de outra confusão relacionada com as comunicações de equipa durante o Grande Prémio da Austrália, onde os pedidos repetidos de Hamilton para ser deixado em paz foram mal interpretados pela mídia. Hamilton salientou que a sua comunicação foi educada e estava longe do nível de agressividade observado nas comunicações de outros pilotos, que muitas vezes passam despercebidas pela mídia.
Os eventos recentes levantaram questões sobre o papel da F1 na curadoria e apresentação das mensagens de rádio das equipas. Embora o elevado volume de mensagens justifique a seletividade, as mensagens escolhidas não devem distorcer a verdade. Algumas equipas expressaram as suas preocupações sobre a abordagem da FOM, comparando-a às táticas de dramatização empregues pela popular série da Netflix, Drive to Survive.
Outro ponto de discórdia é o tratamento de mensagens que contêm palavrões. Embora a FIA, o órgão governante do desporto, tenha tentado restringir o uso de palavrões, a decisão da FOM de transmitir mensagens censuradas parece estar em desacordo com esta posição. Isso envia sinais contraditórios sobre a aceitabilidade do uso de palavrões no desporto.
Em conclusão, embora não se possa negar o valor de entretenimento das mensagens de rádio das equipas, o seu uso seletivo e distorcido pode levar a mal-entendidos e narrativas falsas. É altura de a F1 encontrar um equilíbrio entre criar drama e apresentar uma descrição precisa dos eventos.