O Indianapolis Motor Speedway (IMS), uma catedral do desporto motorizado reverenciada em todo o mundo, decidiu manter as suas portas fechadas à Fórmula 1, pelo menos por agora. Enquanto a F1 continua a sua ascensão meteórica nos EUA, organizando eventos deslumbrantes em Miami e Las Vegas, o IMS mantém-se firme no seu compromisso com ícones americanos como a Indy 500 e a Brickyard 400. Mas será este um movimento calculado, ou estará o IMS a perder uma oportunidade de ouro para recuperar a glória global da F1?
Os Dias de Glória da F1 em Indianapolis
Durante um breve, mas memorável, período entre 2000 e 2007, o IMS foi o lar do Grande Prémio dos Estados Unidos, acolhendo emocionantes corridas de F1 nos seus históricos terrenos. Lendas como Michael Schumacher cimentaram os seus legados aqui, com o ás alemão a conquistar cinco vitórias, incluindo uma vitória marcante em 2000 que também assinalou o seu primeiro campeonato com a Ferrari.
No entanto, após 2007, o circo da F1 seguiu em frente, encontrando eventualmente um novo lar no Circuito das Américas (COTA) em Austin. Desde então, a presença da F1 nos EUA disparou, com três corridas agora no calendário e os fãs americanos a abraçarem o desporto como nunca antes. No entanto, apesar deste aumento, as portas do IMS permanecem fechadas à Fórmula 1.
A Economia por Trás da Decisão
O Presidente do IMS, Doug Boles, e o proprietário Roger Penske têm uma posição clara sobre o assunto: não se trata do amor pela F1; trata-se dos números.
“Estamos prontos. Se a F1 algum dia quisesse voltar, ficaríamos felizes em recebê-los,” disse Boles numa entrevista franca. “Mas o desafio com o modelo de negócio da F1 é que o estado do Texas, por exemplo, pagou quase 45 milhões de dólares à F1 para que eles aparecessem. Para nós, simplesmente não faz sentido financeiro.”
Diferentemente de outros circuitos que dependem fortemente de subsídios governamentais para suportar as exorbitantes taxas de acolhimento da F1, o IMS opera num modelo que prioriza a sustentabilidade e a rentabilidade. Com eventos de sucesso como a Indy 500, que consistentemente atrai milhões de espectadores e multidões recorde ao vivo, o Speedway tem pouco a ganhar ao assumir os riscos financeiros de um acordo com a F1.
Boles elaborou: “Roger adoraria tê-los de volta. Mas ele é um homem de negócios. Não se trata necessariamente de ganhar dinheiro, mas não se pode perder milhões e milhões de dólares.”
Indy 500: A Joia da Coroa que Supera a F1
Os números contam a história. A Indy 500 de 2024, apesar de ter sido adiada devido ao mau tempo, ainda conseguiu atrair 5.34 milhões de espectadores na TV, um aumento de 8% em relação a 2023. A audiência de pico atingiu impressionantes 6.46 milhões, reforçando o status inigualável da corrida no automobilismo americano.
Olhando para o futuro, o novo contrato de televisão da série IndyCar com a FOX a partir de 2025 deve elevar ainda mais estes números, garantindo o domínio financeiro e cultural do IMS nas corridas americanas.
Fama Global vs. Legado Local
A questão permanece: estará o IMS a perder fama global ao manter a F1 à distância? Talvez. Uma corrida de F1 no Speedway poderia trazer atenção internacional, uma nova geração de fãs e uma oportunidade de reconectar-se com um público global que uma vez aplaudiu as heroicidades de Schumacher na sua pista.
No entanto, o IMS não precisa da F1 para solidificar o seu lugar na história do automobilismo. O legado da pista é construído ao longo de mais de um século de corridas icónicas, e não de alianças passageiras. Ao focar na IndyCar e nos seus eventos principais, o IMS está a apostar no que faz melhor: celebrar a alma do automobilismo americano.
Conclusão: Uma Manutenção Estratégica
Num era em que o brilho e o glamour da F1 estão a remodelar o apelo global do automobilismo, a decisão do IMS de ignorar a F1 pode parecer ousada—ou até mesmo míope. Mas para uma instituição que prospera na tradição, na glória das corridas locais e nos negócios inteligentes, a decisão é enraizada no pragmatismo.
Com o crescimento da audiência da IndyCar, o encanto duradouro da Indy 500 e um modelo financeiramente sustentável, o IMS não precisa da F1 para continuar a ser icónico. A questão é saber se a F1 precisa mais do IMS do que o IMS precisa da F1.