Antes de mais começo por deixar claro que sou um grande fã da Fiat. Na família recordo o “velhinho”125 da minha irmã, o Uno do meu irmão, o meu Fiat Tempra SW, primeiro modelo familiar que passou aqui por casa, já para não falar do Panda, companheiro das primeiras aventuras ao volante.
Dito isto, e longe desses tempos, a realidade hoje é bem diferente e encaminha-nos, bem ou mal, para a mobilidade elétrica. A Fiat, com toda a sua tradição não se deixou ficar para trás na caminhada para uma nova era e o 600e, constitui um importante passo para a marca italiana, não só na estratégia rumo à nova era, como também por marcar o regresso da Fiat ao segmento B que já liderou, e no qual não estava presente desde o final de produção do Punto.
Design com espírito Dolce Vita
Desta forma, a Fiat jogou forte e o novo 600e, também conhecido como o irmão maior do 500e, inspira-se no nome do 600 original e traz consigo toda a jovialidade e estilo italiano. Tudo começa na paleta de cores que encara na perfeição beleza italiana e a filosofia Dolce Vita, deixando de lado as cores tradicionais, como os cinzentos, e apostando em cores vivas como o laranja do modelo testado, que recebeu a designação de “Sun of Italy”.
Transformar, o original 600 num modelo mais familiar foi uma tarefa bem conseguida, para os quais contribuem os 4,17 metros de comprimento e 2,56 metros de distância entre eixos.
Em matéria de design, bem se pode dizer que o 600e é bem conseguido, e apesar de ser inspirado no 500, apresenta uma face mais nítida e mais assertiva, com um capô mais dominante e um nariz mais afilado. Além disso a curva mais profunda na traseira foi mantida, mesmo que o motor já não esteja ali posicionado, como acontecia nos anos 50.
Nota ainda para a assinatura cromada renovada do 600 que se apresenta tanto na frente como nas laterais, em conjunto com uma identidade de iluminação LED atualizada. A imagem exterior elegante e dinâmica é realçado pelas jantes maiores (até 18″ e com um diâmetro de 690 mm), pelas saias laterais e cavas das rodas em preto mate, enquanto o típico estilo italiano também pode ser encontrado na bandeira de Itália no para-choques traseiro.
Interior diferenciador
Ao assumir o volante do 600e é possível conferir que a inspiração no 500 é forte. O painel frontal do tablier e o painel de instrumentos de 7’’, por exemplo, são assumidamente Cinquecento. Apresentam formas arredondadas e a cor da carroçaria, elementos que são a assinatura do 500. Ao centro, destaca-se o sistema Uconnect com um ecrã 10,25’’ bastante completo, mas a precisar de gastarmos mais tempo para nos podermos habituar, nomeadamente quando emparelhado com o smartphone via Android Auto ou Apple CarPlay. É certo que a Fiat facilitou a tarefa ao optar por reduzir os botões, e a incluir atalhos lógicos no ecrã central, assim como para a climatização.
Abaixo da climatização estão os seletores de marcha, numa posição afastada do condutor e que obrigam a retirar os olhos da estrada para selecionar, por exemplo, a marcha-atrás.
Da história vem também o design original de dois braços do volante e a linha de cintura nos bancos que se tornou uma assinatura que as pessoas esperam encontrar no 500.
Positivo é igualmente o espaço de arrumação no habitáculo, a começar por uma zona colocada por baixo do seletor de marcha, que conta com uma tampa tipo “capa de tablet”, que permite guardar do olhar alheio o que ali transportamos, como documentos, chaves ou o telemóvel.
Já a bagageira oferece 360 litros de capacidade, que podem chegar aos 1231 litros, com o banco traseiro rebatido e apresenta um fundo amovível para criar uma plataforma de carga com o rebatimento do encosto traseiro, e que permite ali arrumar os cabos de carregamento. Além disso, a porta da bagageira, na versão testada está equipada com abertura elétrica e mãos livres, o que facilita a tarefa na hora de arrumar as malas de viagem.
Em termos de habitabilidade, o 600e é um claro SUV-B, com capacidade para transportar confortavelmente quatro adultos, já que no banco traseiro o lugar do meio torna-se algo incomodo para um adulto devido ao túnel central elevado e à pouca largura para as pernas, sendo por isso mais adequado para o transporte de uma criança.
Um ponto diferenciador deste 600e para a concorrência é o facto da Fiat o ter dotado de janelas traseiras escurecidas, no caso da versão testada, que podem ser abertas na totalidade, o que começa a ser difícil de encontrar.
Na frente, a versão testada “La Prima”, mima o condutor com um banco com função de massagem, aquecido, regulável eletricamente em 6 modos com ajuste lombar. Já o do passageiro beneficia da função de aquecimento e de ajuste manualmente em 6 modos. Ou seja, conforto, não falta para quem viaja nos bancos da frente, nem no banco traseiro.
Condução Suave
Para testarmos o Fiat 600e e as suas capacidades de autonomia, decidimos partir à aventura em direção ao Alentejo, sendo certo que duas pessoas viajam de forma muito confortável e folgada com toda a bagagem necessária para um fim de semana.
Orientado para o conforto, não espere que o 600e revele credenciais de um puro desportivo, mas o motor elétrico de 156 cv de potência permite desfrutar de uma segurança de referência em todas as circunstâncias e uma condução bastante suave que nos deixou surpreendidos. Para além disso, este motor oferece uma resposta rápida e nada brusca, subido de rotação de forma progressiva, mostrando que é ideal para andar em circuitos citadinos.
É certo que a facilidade de condução acaba por se refletir nos consumos realizados que ficaram pelos 14,7 kWh/100km, ligeiramente abaixo do anunciado de 15,2 kWh/100km.
Interessante foi perceber que realizamos cerca de 320km em estradas secundarias e autoestrada, apenas com uma carga da bateria, sem abdicar em alguns momentos da utilização do ar condicionado e recorrendo ao longo da viagem ao modo B que ajuda a converter a energia cinética, do movimento do veículo, em energia que pode ser utilizada de imediato ou armazenada na bateria. No entanto, a Fiat deverá ter em conta o posicionamento do botão deste modo único de regeneração, localizado junto ao seletor de marcha, que nos obriga a esticar para selecionar ou desativar o modo B.
Mas não se admire com o feito, até porque a bateria de 54 kWh que alimenta o motor elétrico do 600e anuncia uma autonomia em ciclo combinado de 406 km e de 591 em ciclo urbano, sendo certo que para alcançar estes resultados terá de aliviar muitas vezes o pé do pedal do acelerador.
Na hora de carregar, o 600e aceita potência de carregamento até 100kW em corrente contínua, e até 11kW em corrente alternada. Ou seja, precisamos de 20 minutos para conseguir 200km, enquanto na mais lenta são necessárias duas horas para 170km.
O pior é mesmo se não tiver um dos cartões dos vários Comercializadores de Eletricidade para Mobilidade Elétrica, é certo que alguns destes operadores contam com aplicações móveis que dispensam o uso de cartão, mas nos postos que testamos, nenhum tinha rede estável que permitisse a sua utilização.
Apesar disso, fique a saber que com o seu ar familiar, o 600e é capaz de acelerar de 0 a 100km/h em 9 segundos e alcançar uma velocidade máxima de 150 km/h, nada que nos impedisse de tirar grande partido de condução nas estradas mais sinuosas que enfrentamos na escapadinha de fim de semana com o 600e
Nota ainda para a possibilidade de o condutor poder escolher entre três modos de condução: Eco, Normal e Sport. É certo que os dois primeiros não sentimos grande diferença na condução, até porque a aceleração e potência ficam limitadas, no entanto, no modo Sport sentimos diferença na direção que se apresenta mais direta e na aceleração mais viva, o que torna a condução bastante mais interessante. Nesses momentos, em que imprimimos um andamento mais rápido, o 600e faz valer a suspensão macia, para favorecer o conforto.
Gostei seriamente do Fiat 600e La Prima, embora esta versão apetrechada de equipamento e conforto apresente um preço que me parece caro, €41.350. No entanto, parece importante questionar se um modelo tão bem equipado como este, conseguirá ter um preço mais acessível.
Ficha Técnica
Motor – Elétrico síncrono permanente
Potência – 115 kW – 156 cv
Binário – 260 Nm
Tração – Dianteira
Caixa de velocidades – Automática 1 vel.
Bateria capacidade Bruta/Útil – 54/51 kWh
Autonomia combinada – 406 km
Potência máxima de carregamento AC/DC – 11 kW/100kW
Garantia da Bateria – 8 anos ou 160.000 quilómetros
Consumo elétrico (WLTP) – 15,2 kWh/100km
0-100 km/h – 9,0 segundos
Velocidade máxima – 150 km/h
Comprimento – 4,17 m
Largura – 1,98 m
Altura – 1,52 m
Peso – 1595 kg
Bagageira – 360 – 1231 litros
Preço – A partir de €36.350 (Versão RED)
Preço da versão ensaiada – €41.350 (Versão La Prima)