É intensa, na Europa, a discussão em torno da exequibilidade das futuras normas de proteção ambiental, de um mercado sem automóveis novos que não elétricos a partir de 2035, e das pretensões de apostar em modelos citadinos 100% elétricos de baixo custo, acessíveis a uma faixa alargada da população. Mas nada disto condicionou a visão da Dacia, que há muito pondera sobre o tema, e revelou recentemente o Hipster Concept, protótipo do que poderá vir a ser o seu futuro “elétrico para todos”.
Considerando que as normas europeias representam uma ameaça à liberdade individual, inclusive por obrigarem ao recurso a tecnologias que aumentam o peso dos automóveis, o que não deixará de ser uma contradição, por influir negativamente nas emissões de CO2, aquelas que os fabricantes têm de diminuir mais rápida e substantivamente, Katrin Adt, CEO da marca romena do Grupo Renault, afirma que a Dacia, “mais do que nunca, é uma resposta ao futuro da mobilidade”, por reinterpretar, em permanência, o princípio do essencial num automóvel. E se razões por detrás da emergência com que a indústria automóvel europeia está, hoje, confrontada estão diagnosticadas, e o que se exige são respostas perentórias, rápidas, e capazes de garantir a sobrevivência de uma atividade com enorme peso na economia e na sociedade, pela riqueza que gera, e pelos milhões de postos de trabalho que assegura, a Dacia dá, desde já, um primeiro passo em frente.



Como? Propondo-se “reinventar o automóvel para todos”, através de um estudo desenvolvido a partir da experiência adquirida com o Spring produzido na China, já com mais de 180 mil unidades vendidas desde 2021. Baseando-se nos dados de utilização deste seu citadino elétrico, a marca afirma que os proprietários, em média, e por dia, fazem quatro viagens, e percorrem somente 34 km. Já na Europa, idêntico exercício permite concluir que as velocidades médias das deslocações não ultrapassam os 56 km/h, que as distâncias percorridas são inferiores a 40 km, e que a ocupação dos veículos é, em média, inferior a 1,6 pessoas.
Considerando tudo isto, a Dacia criou o Hipster Concept, que apresenta, desde logo, a particularidade de anunciar uma pegada de carbono 50% inferior à do melhor automóvel elétrico com quatro lugares, ou mais, do momento. Com formas muito geométricas, tem apenas 3 m de comprimento, 3 portas, 4 lugares, uma mala com 70 litros de capacidade com os encostos dos bancos montados (rebatendo-os, a mala passa a oferecer com 500 litros!), e um peso abaixo de 800 kg (sendo, assim, 20% mais leve do que o Spring, que, na melhor das hipóteses, pesa 1051 kg).




Características do Hipster Concept são, de igual modo, a posição de condução elevada (segundo a Dacia, é semelhante à do Bigster, o SUV que hoje ocupa o lugar de topo na respetiva oferta), o equipamento reduzido ao essencial, sobretudo no campo da segurança (dois airbags, poucas assistências eletrónicas à condução), e o minimalismo no que à interação com o condutor diz respeito (se a instrumentação é digital, o sistema de infoentretenimento será o smartphone do utilizador, que pode receber uma mão cheia de aplicações feitas sob medida).
Por revelar estão a capacidade da bateria, e a potência do motor elétrico, embora a casa romena sublinhe que projetou a motorização para duas viagens diárias, com dois carregamentos por semana. Quanto à passagem à produção, e segundo fonte da Dacia: “Vamos ver as reações ao concept. Potencialmente, no Grupo Renault, temos recursos para fazê-lo. A ambição é estarmos hoje onde o mercado vai estar amanhã, e redefinir, permanentemente, o essencial num automóvel. O sucesso da marca deve-se a esta abordagem disruptiva”.






