Os fabricantes de automóveis chineses estão a manobrar habilidosamente em torno das pesadas tarifas de veículos elétricos (VE) da União Europeia, aumentando as exportações de carros híbridos e posicionando-se como players-chave no mercado automóvel em evolução da Europa. Com novos modelos híbridos plug-in (PHEV) e planos para estabelecer produção dentro da UE, empresas como a BYD e a Geely estão a remodelar o panorama, deixando os fabricantes europeus a preparar-se para uma concorrência acentuada.
Carros Híbridos: A Brecha Perfeita
As recentes tarifas anti-subsídio da UE, que impõem taxas de até 45,3% sobre os VE de bateria (BEV) fabricados na China, visam proteger a indústria automóvel europeia do que a Comissão Europeia considera “subsídios injustos” que criaram um enorme excedente na produção de VE na China. Mas os híbridos, que combinam gasolina e eletricidade, estão notavelmente isentos dessas tarifas, proporcionando aos fabricantes chineses uma forma de contornar as restrições.
Murtuza Ali, analista da Counterpoint Research, explica a mudança: “O aumento é impulsionado pelos OEMs chineses que estão a mudar-se para os PHEVs como uma forma de contornar as novas tarifas da UE sobre as importações de BEV da China.” Ele prevê que as exportações de híbridos da China para a Europa crescerão 20% este ano, com um crescimento ainda mais rápido esperado em 2025.
Um Mercado em Crescimento para Híbridos
Os números são claros. De julho a outubro de 2024, as exportações de veículos híbridos da China para a Europa mais do que triplicaram para 65.800 unidades em comparação com o mesmo período em 2023, de acordo com a Associação Chinesa de Automóveis de Passageiros. Estes híbridos representam agora 18% das vendas de veículos da China para a Europa, duplicando a sua quota em relação ao início do ano. Por outro lado, a proporção de remessas de veículos elétricos puros para a Europa diminuiu, refletindo esta mudança estratégica.
A crescente procura da Europa por híbridos acessíveis e eficientes em termos de combustível surge num momento de inflação crescente, onde os compradores estão cada vez mais à procura de soluções intermédias entre motores de combustão tradicionais e veículos totalmente elétricos.
Os Fabricantes Chineses Estão Prontos para Dominar
Os fabricantes chineses estão a entrar num mercado híbrido tradicionalmente dominado por fabricantes europeus e japoneses. A BYD, o maior fabricante de veículos elétricos da China, já lançou o Seal U DM-i, o seu primeiro híbrido plug-in para a Europa. Com um preço de 35.900 € (37.700 $), o modelo é mais barato do que o Tiguan PHEV da Volkswagen e o C-HR PHEV da Toyota, tornando-o altamente atrativo para os consumidores europeus sensíveis ao preço.
A BYD está também a explorar a produção local de híbridos e veículos elétricos na Hungria para mitigar os impactos das tarifas, de acordo com relatórios da mídia chinesa.
A Geely seguiu o exemplo com a sua marca Lynk & Co, lançando um novo modelo híbrido adaptado para a Europa. Da mesma forma, a SAIC Motor e a Honda aumentaram as exportações de híbridos, capitalizando a crescente procura europeia e abordando problemas de sobrecapacidade na China, onde as vendas internas desaceleraram.
Navegando pelo Olho Vigilante da UE
Enquanto os fabricantes chineses de automóveis estão a ter sucesso na Europa, os especialistas alertam contra uma política de preços demasiado agressiva que poderia provocar outra onda de tarifas da UE. Yale Zhang, diretor-geral da Automotive Foresight, adverte: “Se a BYD levar o Qin Plus para a Europa a um preço de €20.000, tenho a certeza de que isso desencadearia outro terramoto.”
A memória da investigação anti-subsídios da UE de outubro de 2023 ainda está fresca, e as empresas chinesas estão a proceder com cautela para evitar outra guerra comercial. A Comissão ainda não comentou sobre o aumento das exportações de híbridos, mas permanece atenta à crescente influência da China no mercado automóvel europeu.
Uma Mudança Estratégica com Implicações Globais
A mudança da China para os híbridos não se trata apenas de evitar tarifas—é parte de uma estratégia mais ampla para lidar com a sobrecapacidade interna e manter a sua posição como uma potência automóvel global. Depois de ter ultrapassado o Japão como o maior exportador automóvel do mundo no ano passado, a China está a utilizar as suas exportações de híbridos para a Europa para contrabalançar a queda nas vendas na América do Norte, onde as tarifas sobre os veículos elétricos são ainda mais elevadas.
A medida sublinha a resiliência e adaptabilidade dos fabricantes de automóveis chineses. Ao oferecer híbridos acessíveis que atendem às necessidades dos compradores europeus, eles não estão apenas a preencher uma lacuna no mercado, mas também a desafiar os fabricantes europeus e japoneses no seu próprio terreno.
Um Futuro Alimentado por Híbridos
A ascensão dos híbridos chineses na Europa sinaliza uma nova era na indústria automóvel global. À medida que fabricantes como a BYD, Geely e SAIC aumentam as suas ofertas, os fabricantes europeus têm de lidar com um panorama competitivo em rápida mudança. Com guerras de preços à vista e batalhas regulatórias prováveis, a corrida para dominar o mercado de híbridos da Europa está apenas a começar.
Para os fabricantes de automóveis chineses, o caminho a seguir é claro: os híbridos são a ponte para a Europa, e eles estão a avançar a toda a velocidade.